
Era um menino, destes que só nos enganam no tamanho. Pouca idade, cigarro de canto de boca,
baba por fazer. Olhos perdidos.
Há tempos era observado, com curiosidade, por toda a sala. Logo ele, iniciador das brincadeiras, riso constante, agora portador daquela angústia em forma de silêncio. Seu olhar era pólo igual, repelia a preocupação, desdenhava da própria condição.
Ela estava ao seu lado, como de costume. A maledicência corria solta, à parte dos dois. Como se todas aquelas línguas entendessem o fim da carne e o começo da alma. Há amores que são feitos mãos; outros, puramente de coração.
Ele tentava manter a feição dura, cavaleiro armado para uma guerra. Sem saber o que enfrentaria. Sem ter uma certeza de vida, ou morte. Ela sentia na sua dor o lamento de quem sofre e grita, sem voz. A dor dela, a impotência de estar longe, mesmo estando perto.
O rosto, até então impassível, contraiu-se em tristeza. As pernas correram, sem direção, só sabendo que precisavam chegar. Num rompante, ela já estava em seu encalço. Viu uma lágrima indecisa, em um cai-não-cai sem término. A lágrima era tão dura quanto uma lança, empunhada por este cavaleiro reticente. Talvez o cai-não-cai de fora fosse o reflexo de dentro, onde ruía lentamente um esqueleto de construção.
Os dois estavam arfantes.
- Você não deveria ter vindo aqui.
- Não é vergonha nenhuma ter alguém com quem andar junto. Ainda que mudos, os dois.
A caminhada seria longa. Eram jovens. As pernas estavam descansadas, e o juízo não era lá muito. Mas era suficiente para fazer aqueles olhos tristes sorrirem.
Haha, que bonito, Sam.
ResponderExcluirNem uma amardura de ferro poderia separar os dois e
Caminhar com alguém do lado é bem mais reconfortante. :D
ResponderExcluirBeijo, Sam.
Ficou lindo o post.
Concordo com a Erica e o Bertonie, ficou bonito mesmo :)
ResponderExcluirPoético e intenso.
Isso sim é boa literatura.
Beijos :*
Ah, tão lindo isso.
ResponderExcluirNão sei fazer comentários poéticos e intensos, risos.
Te amores que nasceram para ser tragicos, mas não menos belos...
ResponderExcluirFiquem com Deus, menina Sam e menino Bertonie.
Um abraço.
"me diz o que é o sufoco que eu te mostro alguém pra te acompanhar" :)
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