Contos Eróticos: Eu Te Amo

Deus, por quê? "Olha", tinha dito ela no dia anterior, "nada é amor; vodka é uma coisa, guaraná é outra coisa, e amor não é nenhuma delas". Ele não poderia dizer fica, ninguém tem o direito de dizer fica. Porque as noites, mesmo sendo eternas, passam - e o que passa não volta nem fica, pois agride, inflama, dói. Ela chorando, não pelos olhos, mas por dentro, na parte da alma, não na parte seca como sol do norte e fria como copa de bordeaux. Então, ela resolve virar-se, fingir que ele não está lá, com seus lábios trêmulos, face límpida e corpo de mochileiro. Pôs a liga e abotoou o sutiã. Fica, tinha dito ele. Não podia, não devia, não era certo - mas não era errado. Ela era ela, a vagar pelas noites, a descobrir novos mundos. Lábios tremulos, face límpida e o corpo de um estrangeiro a amarraria. Céus, por que pensava? Por que sequer cogitara a ideia de ficar? "É suicídio", pensou, "matarei a mim mesma para dar lugar a uma outra".
Ela resolveu deixar que uma lágrima saísse-lhe dos olhos, caindo da face, chegando no corpo do estrangeiro. "Não chora", falou o homem; "Fica". Ela aborreceu: lhe deu um beijo violento, desses que mordem o lábio como um cão faria, enfiou-se num vestido preto e puxou a maçaneta que os separava do resto do mundo.
"Não", disse ela pouco antes de adentrar no exterior do quarto. Tirou com força a última lágrima do olho castanho e saiu correndo, descalça e tonta, rumo a si.