_Me deixa ser o dono do teu coração.
_Ele já tem dono!
_Me deixa ser o gerente, então.
Foi numa festa de aniversário em que os dois se conheceram. Vi tudo. Eu estava lá vagando por entre os corredores daquele tão grande apartamento em Itapuã. A música era de carnaval antigo, desses que só se vê na televisão. Ah, só para constar, eu odeio televisão. Eu nunca apareço bem nela. Acho que ela me engorda. Voltemos ao casal:
_Olha que a gerência é cargo de grande responsabilidade!
_E olha que vê-se em mim a representação humana da confiança.
_Quero só ver.
Despiram-se dois meses mais tarde por menos de meia hora. Despiram-se e atacaram-se no estacionamento da universidade. Que vergonha! Eu estava lá acompanhando tudo, com cautela para não tocar nos dois, numa distância segura. Ele não queria porque ele era a representação humana da paciência em Salvador. Ele só queria ser gerente do coração. Eu bem que o avisei. Olha, não estranha, mas essa menina é cheia de manha. Ele pareceu ignorar-me. Adiantemos e vamos para alguns meses mais tarde.
_Olha...
_Estou olhando.
_Não é olha de olhar. É olha de escutar.
_Hã?
_Escuta.
_Estou escutando.
_Bom que esteja.
_Fala logo que eu tenho aula de Metodologia Científica.
_Estou grávida.
Ele deu o silêncio como resposta e olhou para o chão. Havia duas formigas carregando um pedaço verde de folha. As duas começaram a disputar pela insignificante folha. Ela partiu-se em duas e cada uma ficou com uma parte. O silêncio se quebrou com sua voz áspera arranhando-lhe a garganta e nadando na atmosfera:
_Tira.
A lágrima ameaçou cair do rosto caboclo da gestante. Ele repetiu:
_Tira.
Ela tentou dar-lhe um tapa. Mas o sangue não conseguiu chegar aos braços. Ele repetiu:
_Tira.
Ela não tirou. E foi aí que eu entrei.
Alguns dias depois, na maca do hospital, ela estava deitada e desacordada. O filho morto na barriga, assassinado por mim, o vilão da história segundo a televisão. Ela não tinha lá muita respiração, na verdade, estava morta. Só me lembro que também vi o genitor daquela tão nati-morta criança naquele mesmo hospital. Mas ele sobreviveu. E, uma semana depois, estava naquele mesmo apartamento em que os dois se conheceram, numa outra festa, com uma outra garota. Ah, eu odeio televisão, só para constar.
Bertonie, eu te odeio, 1bj.
ResponderExcluirEspero que eu não tope com esse rapaz, se eu for pra Itapoã. Essas propostas de gerenciamento são muito convidativas.
;*
Aff, este negocio de gerênciar coisas dos outros sempre dá melda...
ResponderExcluirMas por que não usaram a camisinha?!
Ela também uma grande vilã, pois é capaz de fazer de um grande genocidio...
Hua, kkk, ha, ha, brincadeira com um fundo de verdade e maldade.
Fique com Deus, menino Bertonie.
Um abraço.
Que interessante. E inteligente a estória. Mt cuidado com as "coisas" que encontramos por ai.
ResponderExcluirTem selos para vocês aqui do Hotel de Papelão lá no blog. Esse blog está entre um dos meus favoritos!
ResponderExcluirPor isso que eu sou fã do Bertonie.
ResponderExcluirEscreve com inteligência, pitadas de humor e emoção.
E que gripe desgraçada, hein?
Credo!
;*
Hei, obrigada pela visita!!!! Adorei!!! beijos
ResponderExcluirMeu Deus .... Nosss forte, Agora me fala, é uma história ? neah ?! rsrsrsrs
ResponderExcluirPitadas de seriedade/responsabilidade/ e sarcasmo ...
Adorei