quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Treze Segundos

Avisou sua casa. Estava diferente, era-lhe familiar, mas diferente. O amarelo desbotado da fachada continuava pouco brilhoso, a relva pouco verde e a terra que consumiam os meros dois metros entre o portão e a porta de entrada continuavam no mesmo lugar. Mas tudo estava diferente. Tudo igual, mas diferente. Era como se o sol, antes brilhoso, ficasse mais amargo, mais desesperançoso, mais alaranjado. O sol alaranjado que ardia sobre sua casa, lhe incomodara, mas ele não fez nada a respeito. Deixou apenas as nuvens o cobrirem. Seu erro sempre foi esse. Deixar as nuvens do céu cobrirem o alaranjar do sol sobre o seu mundo. Podia até ser forte, mas não tinha a força necessária para devolver o brilho de verão ao Sol, seu legítimo dono. Roubara para si. E o estragara. É mágoa. E traição. Não aguentou o peso de seu coração cheio de sangue e de dúvida, e sentou-se na calçada em frente a sua casa. Jogou a moto no chão. Que importância tinha? É mágoa. Colocou os braços sobre os joelhos e olhou para o chão. Viu apenas a sujeira do concreto. Mas é melhor pensar que ele estava observando a sujeira de si mesmo. É mais viável. Treze segundos mais tarde, sem nenhuma útil e fidedigna reflexão passando pela cabeça de Joubert, apareceu sua irmã com seus olhos masoquistas sangrando por dentro e com um vestido cor-de-nada que combinava com o dia de ambos os irmãos. Joubert não olhou para trás. Sentiu a presença da menina pela atmosfera que os rondava silenciosamente. Samia ajoelhou-se por trás de seu irmão e abraçou-o pelas costas, envolvendo seus braços no pescoço de Joubert. Foi um abraço leve, mas cheio de espírito. Cairam duas lágrimas do rosto de Joub. Por algum motivo, houve o mesmo com a menina. Passaram bons minutos ali, naquela mesma posição, abraçados com o silêncio. Vez ou outra um barulho de carro passando na rua ou de um avião cruzando os ares invadia a paz dos dois. Mas o barulho era efêmero, não tinha importância. Estavam concentrados no futuro, no medo do amanhã. O desalento do sol alaranjado não era culpa de ninguém e era culpa de todo o mundo. E ninguém sabia disso. Infelizmente.

Trecho de O Sol Alaranjado,
livro de João Bertonie.

5 comentários:

  1. own, que coisa mais linda ^^
    adorei a escolha dos nomes ;)

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  2. Adorei o trecho porém não conheço o autor nem o livro mas tenho certeza de que é um livro muito bom...
    Adoro seu blog,acho esse espaço super criativo!
    bjoo =)

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  3. Quando vai ser publicado o livro?
    HEHE

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  4. "Mas o barulho era efêmero, não tinha importância. Estavam concentrados no futuro, no medo do amanhã. O desalento do sol alaranjado não era culpa de ninguém e era culpa de todo o mundo. E ninguém sabia disso. Infelizmente."

    Adorei esse trecho!

    Bertonie, você já publicou esse livro?
    Se já, me diz onde posso comprar. EU QUERO LER TODO ESSE LIVRO.

    Beijo.

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  5. E no final, não foi ele que perdeu a luz da vida, ele apenas havia desistido de ver a luz no mundo...

    Fiquem com Deus, menino Bertonie e menina Sam.
    Um abraço.

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Caso o hóspede não aproveitou dos serviços desse hotel, a equipe do Hotel de Papelão acha melhor não usufruir dos meios de comunicação aqui presentes. Atenciosamente, Bertonie e Sam.
Resumindo: não leu, dá meia-volta e abraça a pessoa mais próxima. Mas não comenta. Beijo, nos liguem.