_Aonde está sua irmã, hein?
_Não sei. Por acaso sou eu a guarda da minha irmã?
_Isso é jeito de falar comigo, menina? Peça desculpas, anda!
_Desculpa.
_Não ouvi, sua peste!
_Des-cul-pa!
A mãe foi dormir; a filha mais velha sumiu, mas que importância tinha isso? Mais cedo ou mais tarde seria uma filha pródiga. Ou não. Que importava? As estrelas já iam sumindo quando a tal primogênita resolveu aparecer. A garotinha cochilava o mais doce dos descansos infantis no sofá da sala quando a porta se abriu. A irmã chegara com os olhos rubros como se fossem explodir - eram duas dinamites, afinal - e com o bafo quente. Ela era altiva, magra de ruim, cabelos longos e negros. Beleza igual não havia em canto nenhum do continente. Mas era gauche por natureza, por sangue e por opção. Voltou com um alvo sorriso triunfante. Porém, em seu âmago, seus olhos brotavam cachoeiras. Abraçaram-se as irmãs sob os gritos da mãe com a mais velha. Abraçaram-se porque eram irmãs, e irmãs precisam apenas de um olhar para comunicar-se. As drogas matavam lentamente a primogênita e indiretamente a mais nova, ela sofria por ambas. Era um anjo. E anjos não costumam passar longas temporadas na Terra.Era domingo, o melhor dia da semana para a menininha, pela grande alegria de não ter nada a fazer. Passavam reprises de filmes dos anos 70 na grande e velha televisão da sala, quando três violentas batidas na porta de madeira lascada a fizeram quase derramar seu copo de café com leite. Ainda bem que quase, porque o leite já acabara, e leite nessa época do ano era caro. Abriu a porta com o cuidado que a mãe recomendara e foi atropelada por um sujeito forte e mal encarado que portava em uma de suas mãos aquilo que chamavam de arma de fogo. De armas de fogo só entendia o que via nas novelas. Mas quando viu-a pensou se tratar de uma de brinquedo e tratou logo de correr, mas foi detida com um soco no estômago. Não doeu. Dor, o que era a dor? O que era a dor para quem nunca experimentara a vida? Pensando bem, doeu sim! Doeu porque o poço da invisibilidade e da inexistência social não tem fim, e qualquer dor é a pior dor do mundo. E como dói o mundo! Se a menininha tivesse voz e alma naquele instante, diria o mesmo que Clarice Lispector: "A vida é um soco no estômago". Morrera a menininha dias depois no hospital. Percebeu que o mundo lhe agrediu, que aqui não era benvinda. Pregou algo no nariz que a impedia de respirar e caminhou até a mais ofuscante luz que viu pela frente...
Espera ai, que estória é essa da mais velha estar se drogando?!
ResponderExcluirÉ engano meu, mas foi o senhorio do barraco que matou a menina por dever o aluguel?!
Hua, kkk, ha, ha, brincadeira com um fundo de maldade.
Mas escrevam sobre a felicidade mundial, mesmo que atualmente seja ver alguém se ferrar...
Hua, kkk, ha, ha, mais outra brincadeira com um fundo de maldade.
Fique com Deus, menino Bertonie.
Um abraço.
que triste isso posha :/ chorei litros ok ;$ mentira nem chorei, mas foi um triste fim :~
ResponderExcluirQue triste. Lindo de uma certa forma e bem real. Mas triste. :/
ResponderExcluirnossa, "/ .
ResponderExcluirQue triste fim da menina .
ps :Amei suas críticas sociais !
Adorei o blog. Texto triste mas veradeiro, assim são as histórias da vida.
ResponderExcluirBj grande.
Bertonie...
ResponderExcluirVocê sabe tanto ser engraçado quanto ser sério. Adorei esse texto. Me lembra das muitas pessoas que estragam a própria vida e além disso arrastam os próximos com elas...
Gostei da sua metáfora a respeito de anjos, e concordo. Parece irônico, mas muitas das pessoas boas que conheci partiram sem direito a um adeus decente. Talvez uma força maior esteja necessitando de boas almas :)
Parabéns pela sua inteligência. Saber criticar e arrancar risadas é algo que não se acha com facilidade :X
Beijos de uma mendiga feliz com esse hotel :*
Excelente.
ResponderExcluirto sem palavras! hehe
muito bom!
Foi bonito. Uma bela mensagem, mas o final foi triste de mais
ResponderExcluirMassa aqui!!! Gostei do nome do blog!
A verdade dói, é triste, mas tem que ser dita. Adorei o texto.
ResponderExcluirQue lindo e triste ! E, mais uma vez o mundo mostra as garrinhas da sua injustiça .-. A mais velha que se mete em coisas erradas, e a mais nova que paga o preço...tsc tsc tsc
ResponderExcluir;*
às vezes pessoas boas morrem jovens pq não merecem essa vida terrena...gostei do teu texto!
ResponderExcluirgostei tbm da expressão "magra de ruim" rs
Bjão
to te seguindo!
Que conto mais sutil. Metáforas perfeitas Bertonie, de verdade. E refletições verdadeiras.
ResponderExcluirA linguagem então... ótimo!
bjs
;**
Conheci este seu blog pelo Vida Cotidiana. Bem, fiquei maravilhada pelos seus textos. Parabéns! beijos
ResponderExcluir